sexta-feira, 20 de julho de 2007

LÁGRIMAS DA VIDA
Se tu souberas que lembrança amarga,
Que pensamentos desflorou meus dias,
Oh! tu não creras meu sorrir leviano
Nem minhas insensatas alegrias!
Quando junto de ti eu sinto as vezes
Em doce enleio desvairar-me o siso,
Nos meus olhos incertos sinto lágrimas...
Mas da lágrima em troco eu temo um riso!
O meu peito era um templo – ergui nas aras
Tua imagem que a sombra perfumava...
Mas ah! emurcheceste as minhas flores,
Apagaste a ilusão que aviventava!
E por te amar, por teu desdém – perdi-me...
Tresnoitei-me nas orgias macilento,
Brindei blasfemo ao vicio e da minh’alma
Tentei me suicidar no esquecimento!
Como um corcel abate-se na sombra
A minha crença agoniza e desespera...
O peito e lira se estalaram juntos,
E morro sem ter tido primavera!
Como o perfume de uma flor aberta
Da manhã entre as nuvens se mistura,
A minh’alma pedia em teus amores
Como um anjo de Deus sonhar ventura!
Não peço o teu amor...eu quero apenas
A flor que beijas para a ter seio,
E teus cabelos respirar medroso
E a teus joelhos suspirar d’enleio!
E quando eu durmo, e o coração ainda
Procura na ilusão a tua lembrança,
Anjo da vida passa nos meus sonhos
E meus lábios orvalha de esperança!
(Álvares de Azevedo)

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